Wilson Reback, merecida homenagem

05/07/2023 | Por Rui Cavallin Pinto

Faz pouco tempo, meu velho amigo, o historiador Francisco Dias Soares Sobrinho, me mandou dos seus ricos arquivos uma nota jornalística sobre a inauguração do I° Salão de Arte Fotográfica de Apucarana, realizada nos dias 22 a 27 de janeiro de 1956, dando destaque ao papel do meu colega e então advogado Wilson Reback, presidente do Foto Clube local, entidade promovente do evento.

O salão foi instalado na Praça Ruy Barbosa e a exposição reuniu bom número de participantes locais (e até estrangeiros), apreciadores da arte fotográfica. A inauguração foi solene e contou com a presença do prefeito local, Jorge Maia, incumbido do discurso de abertura e desate da fita inaugural da exposição.

Wilson Reback
Wilson Reback | Ilustração do autor.

A pretexto, quero então recordar que fui presente à solenidade de formatura de Reback em Direito, quando então eu o convidei para dividir comigo um escritório de advocacia em Apucarana, que logo depois passamos a ocupar numa sala do prédio de Adão Kaniewski, na esquina da praça central da cidade. E então, passamos a dividir juntos as dificuldades de um início de carreira, de ganho escasso, mas logo dividido com os parcos vencimentos do ensino secundário, em estabelecimentos públicos e privados da cidade.

Os tempos eram então difíceis, pois toda a região fora atingida por fortes geadas que cobriram de noiva seus ricos cafezais e debilitaram a economia geral do país. Apesar das dificuldades, porém, nós nos sentíamos felizes, pois ainda contávamos com a confiança natural e maior dos nossos primeiros anos de vida, além reforço conquistado pela qualificação dotada pelo diploma superior e a oportunidade profissional do trabalho.

Nesses primeiros anos, porém, Reback passou a cumprir seu papel de advogado recém-formado, sem definir, no entanto, seu projeto definitivo de vida. Pois era um católico devoto. Pertencera à juventude universitária católica e, diante da regularidade com que cumpria seus deveres religiosos, até admitíamos que pudesse vir a adotar a vida religiosa em definitivo.

Optara, até então, pela advocacia, mas sem descurar dos hábitos da formação clássica da sua vida espiritual, ministrando aulas de ensino de português e latim nos educandários locais. Era, porém, pessoa aberta ao convívio e à boa prosa, cultivando amigos e gozando da estima dos seus alunos.

 

Certa vez se pôs a montar uma peça teatral, recrutando seus próprios discípulos. Era uma peça de Pedro Bloch: “Os inimigos não mandam flores”. Quantas vezes eu o vi ensaiando no salão social do Colégio Santos Dumont como um autêntico diretor de cena. O fato, porém, é que a peça nunca foi levada ao palco, ficou reduzida aos ensaios...

Outro, do seu gosto pessoal, era o de ouvir ópera, mas do repertório só tínhamos reproduções da época do vinil, que era a dos Pagliacci, de Leoncavallo; que Reback curtia e repetia a ouvir. E, falando dele ainda, outro do seu gosto particular, era o da fotografia, para cuja arte eu até lhe atribuía certa arte natural, que o levou a fundar na cidade o clube da fotografia, promovendo até exposições.

Reback viveu bons tempo conosco e certamente teria deixado legado maior, de amizades e participação na vida da cidade.

E então, quando se dispôs a se casar com Andyara (um amor fiel, cultivado desde os tempos da mocidade católica), decidiu dotar sua futura família de uma maior segurança, assumindo um destino definitivo, com seu ingresso na magistratura estadual, para a qual a experiência do tempo e a continuidade dos estudos já o recomendavam.

Foi quando deixou Apucarana e só voltamos a nos ver, tempos depois, já juiz de Direito, cumprindo um longo périplo pelo Estado. Tempos em diante, nossos encontros foram casuais, habitualmente em Curitiba, nos períodos de férias forenses.

Enfim, como juiz acompanhei à distância sua bela carreira, que o levou ao Tribunal de Alçada, onde chegou à presidência, e, finalmente, ao Tribunal de Justiça, onde atuou por anos e deixou memória definitiva de sua vocação e devoção à justiça.

Wilson Reback faleceu em 2011, em Curitiba, na condição de desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado, doente há alguns anos, vítima de acidente cerebral que o afastou definitivamente das funções e o condenou à imobilidade e até ao silêncio da fala.

Foi, porém, amigo de Apucarana, onde conviveu, serviu e guardou lembranças que repetia com carinho. Fez grande número de amigos e me orgulho de ter dividido com ele um belo período de amável e proveitoso convívio e, com mais razão ainda, de ter dividido com ele o ideal de procurar e tentar a difícil realização da justiça.

Depois disso seguimos caminhos próprios.

Reback foi assim, diante do infortúnio inelutável que o vitimou, uma presença que não se apaga em nós, porque permanece na memória, na estima e na saudade dos que o conheceram e dele foram servidos.