Tramujas Neto: um parano-gaúcho?
11/07/2011 | Por Rui Cavallin Pinto | Atualizado em 23/10/2020
Embora prometesse uma carreira promissora, Arthur Rodrigues Tramujas Neto integrou os quadros do Ministério Público por tempo menor do que se podia prever. A tragédia o surpreendeu e o levou ao transpor os quarenta anos, quando já se assentara em plena capital, em vara criminal do seu gosto.
Já tinha percorrido o interior do Paraná por dez anos inteiros, em sucessivas comarcas como Clevelândia, Sertanópolis, São Mateus do Sul, Paranavaí, Ivaiporã, Araucária e São José dos Pinhais, antes de alcançar Curitiba, promovido em 1989.
Nesse intercurso, completaria também sua formação em Direito Penal de Direito Processual Penal, em curso de um ano na Itália, na Universidade de Pádua, de onde trouxe a admiração e as lembranças de sua convivência com Giuseppe Bettiol, seu mestre, a quem prestou reverente homenagem post mortem.
Foi orador dos melhores da Instituição, de fácil e simpática comunicação.
Tramujas tinha, porém, um fraco incurável, seu viés boêmio, que sua simpatia e beleza de sua voz faziam a atração das rodas de amigos nas noites curitibanas.
Sua paixão por Curitiba fazia se intitular curitibaníssimo, e, na sua opinião, o nome Paraná nos foi impingido por imitação do Amazonas e a serviço do rio e só passou a ser usado na virada do século. Éramos até então curitibanos e o nome Província de Curitiba ou dos Campos Gerais, como seria certo ser adotado. O rio Paraná fica a latere1. Outra paixão que passou a animar a vida do Tramujinha (era o trato dos amigos e da necessidade de distingui-lo do pai procurador, do mesmo nome) foi o epíteto parano-gauchismo que ele ostentava e cultivou, divulgando-o como o da verdadeira identidade paranaense.
Assim integrou o Centro de Tradições Gaúchas – CTG e participou da criação das revistas Leite Quente e Pampas, nas quais publicou longos textos divulgando a cultura e as tradições sul-brasileiras. Nas festas campeiras se apresentava sempre pilchado: de bombachas e cuia de chamarão. Trazia o poncho e o chapéu de copa baixa preso pelo barbicacho, à moda dos antigos “monarcas das coxilhas”. Enfim, ele via assim nosso arquétipo paranista.
E, para concluir: Tramujas Neto foi promotor de tantos talentos, mas infelizmente o destino o subtraiu de nos no esplendor de sua maturidade e sede de viver.
Nota do Memorial
1. Ao lado.