Danilo de Lima, nosso decano

16/04/2009 | Por Rui Cavallin Pinto*

Cada um de nós já deve ter ouvido a justificativa de algum colega mais velho (já com tempo de aposentadoria), de que só não se aposenta porque, depois de passar toda a vida na função, já não sabe fazer outra coisa do que ser promotor. É como quem diz que só fica no cargo para não ter de ficar sem ter o que fazer. Há, outros, porém, mais raros, é claro, que já não se aposentam porque amam e confiam demais no que fazem, e deixar de fazê-lo é uma ideia difícil de aceitarem. Para estes, o Ministério Público tem um sentido permanente de vida, pois, se de um lado lida com as formas mais graves de indisciplina social, permite, por outro, que faça do Direito um instrumento direto, permanente, material, de preservação da paz social e de reeducação do homem infrator.

Porém, queiram ou não queiram, ainda neste ano, nosso decano do Ministério Público, o procurador Danilo de Lima, cai irremediavelmente na compulsória. Completa 70 anos de uma vida quase toda dedicada à Instituição do MP paranaense e representada por uma folha de serviços que já conta com 72 páginas, mas que, mesmo assim, dizem pouco de sua pessoa, de sua presença e contribuição pessoal à Instituição.

Não é só o tempo que conta, mas o que se faz dele para valorizá-lo e multiplicá-lo. Ele próprio reconhece que o Ministério Público foi, afinal de contas, sua verdadeira vocação, pois ao simples convite do procurador-geral Alcides Munhoz Neto, deixou um emprego federal na capital, de melhor remuneração, para se converter em promotor substituto interino no interior do Estado. Depois desse começo fez então uma longa carreira, percorrendo diversas comarcas, com maior permanência e ligação afetiva com Cascavel. E nessa caminhada, ganhou prestígio, uma multidão de amigos, além de constituir uma sólida família, numa ligação amorosa que lhe deu cinco filhos.

Alcançando a capital, atuou sobretudo na área criminal, de sua preferência, e já, ao atingir certo grau de desempenho e prestígio da classe, recebeu convite do governo para assumir a própria chefia da instituição, proposta que só não aceitou porque não viu confirmadas, em troca, as exigências que fez em favor da instituição e sua categoria. Nessa altura da vida, entretanto, sofreu a perda inesperada e dolorosa da companheira e mãe dos seus filhos, impedindo que pudesse dar uma participação mais ativa à administração superior do MP. Daí para frente, assumiu a criação e a educação dos filhos e se limitou a cuidar de suas funções de representação do Parquet junto ao Tribunal de Justiça, com as qualidades que sempre o consagraram como um dos agentes mais dedicados e competentes do Ministério Público paranaense.

Claro que ele sempre fez sobrar algum tempo para o bate-bola com os amigos no esquadrão dos seniores, do qual foi titular, bem como para se dedicar à sua segunda vocação: a da caridade pública e de sua contribuição pessoal à justiça social. É até hoje conselheiro do Instituto Paranaense de Cegos, em defesa de cuja instituição e maior amparo a seus deficientes fez até inimigos e recebeu deles a alcunha de “revolucionário”. Certamente, ainda lhe sobra um resto de ano para o muito que ele sempre se propõe fazer; mas com certeza, ter de deixar de fazê-lo um dia, vai representar uma falta tão grande que nem a estima dos amigos e o reconhecimento da instituição ajudarão a preenchê-la.


* Publicado originalmente em periódico de 2007.

** Danilo de Lima aposentou-se em 3.12.2007, mas seguiu trabalhando como voluntário no MPPR. Faleceu em 8.9.2013.