Aparte Eletrônico 16
Aparte Eletrônico nº 16
Caro(a) Colega:
Nesta semana estamos enviando abaixo, uma reportagem sobre disparo de arma de fogo, retirado da revista ‘Seleções’, de janeiro de 2007. Texto que pode ser utilizado em júris que envolvem armas de fogo como instrumentos do crime, com a finalidade de esclarecer aos jurados os danos causados pelo tiro.
Um caloroso abraço,
CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DO JÚRI
EDILBERTO DE CAMPOS TROVÃO PROCURADOR DE JUSTIÇA COORDENADOR
PAULO SERGIO MARKOWICZ DE LIMA PROMOTOR DE JUSTIÇA
TOMANDO BALA
por LESLIE SCRIVENER
Para descrever o que sente uma pessoa ao levar um tiro, um canadense, ferido quando homens armados atiraram nele e acabaram matando o motorista do carro em que ele estava, faz a seguinte analogia:
Sabe aquelas barras de aço usadas em construção? Imagine alguém pondo uma barra dessas no jogo até ficar incandescente e depois apunhalando você várias vezes com ela. Pou-pou-pou-pou-pou-pou-pou-pou-pou. Um som alto, repetido. E depois eles fugiram.
Vítima inocente, o homem foi atingido nove vezes. Os agressores estão aguardando julgamento, e ele pediu que seu nome não fosse revelado.
Outras vítimas de tiros os descrevem como uma surra lancinante de vara, uma ferroada de abelha ou até uma leve queimadura.
Muitos dos que são atingidos por uma bala estão num estado emocional tão intenso que sequer percebem que levaram um tiro, diz o Dr. Martin Fackler, da Flórida, militar reformado, cirurgião de traumatismos e especialista em ferimentos provocados por balas.
Eu saí de baixo do painel do carro para ver o que estava acontecendo. Vi dois clarões de luz e depois me enfiei de volta no buraco.
O projétil sai do tambor da arma, girando em torno de seu eixo longitudinal. A velocidade varia, dependendo da arma, e isso também é um fator para determinar a lesão ao tecido do corpo.
"Lembra-se da Física do ensino médio?", pergunta o Dr. Michael Pollanen, legista e patologista-chefe em Ontário. "Energia cinética é igual a metade da massa vezes a velocidade ao quadrado. O poder de ferimento é determinado pela velocidade, não pela massa do projétil." Se a bala sai do cano da arma a cerca de 300 metros por segundo, pode ter a velocidade reduzida a 60 metros por segundo quando atravessa o pára-brisa de um carro.
A bala precisa se mover de 50 a 65 metros por segundo para penetrar a pele. Geralmente, o ferimento de entrada é pequeno, redondo, dando pouca indicação do estrago que ela pode fazer dentro do corpo.
O vidro na janela do passageiro quebrou. Eu não conseguia sentir o braço esquerdo nem o lado esquerdo do peito. Meu braço estava pulando, mas eu não sentia nada. Quando retiraram as balas (dois meses depois), um pedaço de vidro saiu com elas.
Quando o projétil sai da arma de fogo, gases quentes, pólvora não queimada e fuligem saem junto, diz Pollanen. Se disparado em contato com a pele ou de uma distância pequena, essas substâncias também penetram o corpo.
Quando as balas entraram, senti como se algo estivesse se expandindo dentro de mim.
Ao romper o tecido do corpo, o projétil pode se deformar e ter seu aspecto alterado, explica Pollanen. Pode também, em raras ocasiões, mudar de direção. Quando faz isso, começa a separar e rasgar os tecidos, criando uma zona de destruição. Com esse efeito, o diâmetro do projétil pode dobrar de tamanho.
Conforme a bala passa pelo corpo, vai criando uma área de ferimento maior do que o orifício feito ao entrar. E sua força faz com que esse orifício temporariamente cresça para fora, o que é conhecido como "efeito de cavitação", o qual às vezes cria espaços tão grandes quanto uma laranja.
"São como ondas de choque ao redor do caminho da bala, e podem causar danos do que ela", diz o Dr. Fred Brenneman, chefe do programa de traumatismo do Centro Sunnybrook de Ciências da Saúde. "Ás vezes, a área de ferimento pode ser muito maior do que a própria bala. Se o tiro atingir o fígado, poderá ser enorme dez centímetros ou mais."
Se a bala atingir o osso, poderá fraturá-lo e criar projéteis secundários que espalharão fragmentos pelo corpo.
Fackler, que em geral trabalha como consultor para a polícia e como testemunha especialista em tribunais, diz que, mesmo que alguém seja atingido no coração, "a morte, na verdade, não é imediata. A vítima pode ter de dez a 15 segundos de ação intencional, pois o cérebro ainda dispõe de oxigênio suficiente para funcionar".
Apesar de popularizada, a imagem da vítima sendo lançada para trás pela força do tiro não é verdadeira, acrescenta ele. "Essa é provavelmente a idéia mais equivocada."
Ainda tenho quatro balas alojadas no pulmão esquerdo. Certo dia, um amigo me chamou para correr. Tive de parar depois de quatro passos. Senti a pressão no pulmão.
Se a bala se alojar no músculo da perna ou nas nádegas, o cirurgião provavelmente não a retirará a exploração para encontrá-la talvez causa mais danos.
Eles então voltaram e me acertaram na cabeça. Senti uma espetadela. Mas a bala só roçou a base do crânio, deixando uma reentrância.
"Noventa por cento dos ferimentos à bala na cabeça são fatais", diz o Dr. Brenneman.
Eu olhava meus ferimentos. O de entrada da bala era um pequeno círculo, com cerca de um centímetro de diâmetro; o de saída era um rasgo, com uns três centímetros de largura e em forma de meia-lua.
Segundo o Dr. Brenneman, "as conseqüências de um ferimento à bala são enormes. O impacto sobre a família é imenso. A pior parte do meu trabalho é contar aos pais que seu filho de 18 anos foi morto com um tiro".
Não sou mais como antes. Eu era uma pessoa segura, amistosa e sociável. Agora não saio mais de casa. Só para ir ao escritório dos advogados, às consultas médicas e à terapia.
Texto retirado da revista Seleções Reader’s Digest, de janeiro de 2007, pp. 76/79.
Um caloroso abraço,
CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DO JÚRI
EDILBERTO DE CAMPOS TROVÃO PROCURADOR DE JUSTIÇA COORDENADOR
PAULO SERGIO MARKOWICZ DE LIMA PROMOTOR DE JUSTIÇA
TOMANDO BALA
por LESLIE SCRIVENER
Para descrever o que sente uma pessoa ao levar um tiro, um canadense, ferido quando homens armados atiraram nele e acabaram matando o motorista do carro em que ele estava, faz a seguinte analogia:
Sabe aquelas barras de aço usadas em construção? Imagine alguém pondo uma barra dessas no jogo até ficar incandescente e depois apunhalando você várias vezes com ela. Pou-pou-pou-pou-pou-pou-pou-pou-pou. Um som alto, repetido. E depois eles fugiram.
Vítima inocente, o homem foi atingido nove vezes. Os agressores estão aguardando julgamento, e ele pediu que seu nome não fosse revelado.
Outras vítimas de tiros os descrevem como uma surra lancinante de vara, uma ferroada de abelha ou até uma leve queimadura.
Muitos dos que são atingidos por uma bala estão num estado emocional tão intenso que sequer percebem que levaram um tiro, diz o Dr. Martin Fackler, da Flórida, militar reformado, cirurgião de traumatismos e especialista em ferimentos provocados por balas.
Eu saí de baixo do painel do carro para ver o que estava acontecendo. Vi dois clarões de luz e depois me enfiei de volta no buraco.
O projétil sai do tambor da arma, girando em torno de seu eixo longitudinal. A velocidade varia, dependendo da arma, e isso também é um fator para determinar a lesão ao tecido do corpo.
"Lembra-se da Física do ensino médio?", pergunta o Dr. Michael Pollanen, legista e patologista-chefe em Ontário. "Energia cinética é igual a metade da massa vezes a velocidade ao quadrado. O poder de ferimento é determinado pela velocidade, não pela massa do projétil." Se a bala sai do cano da arma a cerca de 300 metros por segundo, pode ter a velocidade reduzida a 60 metros por segundo quando atravessa o pára-brisa de um carro.
A bala precisa se mover de 50 a 65 metros por segundo para penetrar a pele. Geralmente, o ferimento de entrada é pequeno, redondo, dando pouca indicação do estrago que ela pode fazer dentro do corpo.
O vidro na janela do passageiro quebrou. Eu não conseguia sentir o braço esquerdo nem o lado esquerdo do peito. Meu braço estava pulando, mas eu não sentia nada. Quando retiraram as balas (dois meses depois), um pedaço de vidro saiu com elas.
Quando o projétil sai da arma de fogo, gases quentes, pólvora não queimada e fuligem saem junto, diz Pollanen. Se disparado em contato com a pele ou de uma distância pequena, essas substâncias também penetram o corpo.
Quando as balas entraram, senti como se algo estivesse se expandindo dentro de mim.
Ao romper o tecido do corpo, o projétil pode se deformar e ter seu aspecto alterado, explica Pollanen. Pode também, em raras ocasiões, mudar de direção. Quando faz isso, começa a separar e rasgar os tecidos, criando uma zona de destruição. Com esse efeito, o diâmetro do projétil pode dobrar de tamanho.
Conforme a bala passa pelo corpo, vai criando uma área de ferimento maior do que o orifício feito ao entrar. E sua força faz com que esse orifício temporariamente cresça para fora, o que é conhecido como "efeito de cavitação", o qual às vezes cria espaços tão grandes quanto uma laranja.
"São como ondas de choque ao redor do caminho da bala, e podem causar danos do que ela", diz o Dr. Fred Brenneman, chefe do programa de traumatismo do Centro Sunnybrook de Ciências da Saúde. "Ás vezes, a área de ferimento pode ser muito maior do que a própria bala. Se o tiro atingir o fígado, poderá ser enorme dez centímetros ou mais."
Se a bala atingir o osso, poderá fraturá-lo e criar projéteis secundários que espalharão fragmentos pelo corpo.
Fackler, que em geral trabalha como consultor para a polícia e como testemunha especialista em tribunais, diz que, mesmo que alguém seja atingido no coração, "a morte, na verdade, não é imediata. A vítima pode ter de dez a 15 segundos de ação intencional, pois o cérebro ainda dispõe de oxigênio suficiente para funcionar".
Apesar de popularizada, a imagem da vítima sendo lançada para trás pela força do tiro não é verdadeira, acrescenta ele. "Essa é provavelmente a idéia mais equivocada."
Ainda tenho quatro balas alojadas no pulmão esquerdo. Certo dia, um amigo me chamou para correr. Tive de parar depois de quatro passos. Senti a pressão no pulmão.
Se a bala se alojar no músculo da perna ou nas nádegas, o cirurgião provavelmente não a retirará a exploração para encontrá-la talvez causa mais danos.
Eles então voltaram e me acertaram na cabeça. Senti uma espetadela. Mas a bala só roçou a base do crânio, deixando uma reentrância.
"Noventa por cento dos ferimentos à bala na cabeça são fatais", diz o Dr. Brenneman.
Eu olhava meus ferimentos. O de entrada da bala era um pequeno círculo, com cerca de um centímetro de diâmetro; o de saída era um rasgo, com uns três centímetros de largura e em forma de meia-lua.
Segundo o Dr. Brenneman, "as conseqüências de um ferimento à bala são enormes. O impacto sobre a família é imenso. A pior parte do meu trabalho é contar aos pais que seu filho de 18 anos foi morto com um tiro".
Não sou mais como antes. Eu era uma pessoa segura, amistosa e sociável. Agora não saio mais de casa. Só para ir ao escritório dos advogados, às consultas médicas e à terapia.
Texto retirado da revista Seleções Reader’s Digest, de janeiro de 2007, pp. 76/79.